Saturday, June 16

anextasiada

nas noites vazias encho-me com os trilhos das outras gentes, e o rasto das luzes que deixam é sempre o mesmo circular fechado. as pessoas são sempre as mesmas, independentemente dos caminhos onde se passeiam. e eu continuo a ser igual aqui como lá fora, igualmente aparte como um estigma.

dantes olhava-me no espelho por horas e horas. quando ria, quando chorava, mas acima de tudo quando estava enraivecida. quando eu vinha ao cimo de mim. quando eu eu era.

hoje dancei em frente ao espelho. a minha cara deixou de ser a minha há já semanas, meses. pesam-me sulcos que não existiam. estou sempre cansada. os meus cabelos emaranham-se, perderam o brilho. hoje ri-me em frente ao espelho. abri bem os olhos, virei-me de perfil, olhei por cima e por baixo.

e já não me encontrei. e senti medo, muito medo, durante um instante de arrepio.

dantes, quando eu me fixava no espelho, reencontrava-me, no matter what aquilo que estava antes ou depois de mim. hoje eu olhei para os olhos que estavam no espelho e eram os de uma desconhecida.

passei a vida estanque no mesmo mundo circular. de repente a minha vida passou a expandir-se e a contrair-se em espasmos rápidos a uma velocidade que não controlo. de repende mudou muita coisa. e eu já não sei quem sou eu.

era mais fácil no tempo das obsessões. havia um motivo e um propósito. havia outra razão. agora não há nada além do que não reconheço. agora há um agora e mais nada. mas eu não sei quem é este eu presente.

e às vezes sinto medo. na maior parte delas, estou simplesmente cansada. mais cansada do que quando me esgotava. ou quando me entediava. o cansaço do tédio para lá do tédio. o não saber sequer o que quero saber. parti de mim.